Por Sérgio Mattos em 15/2/2011
Discurso proferido como patrono da segunda turma de Jornalismo (2010.2) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; Cachoeira, 5/2/2011
Prezados formandos:
Antes de tudo quero agradecer a escolha de meu nome para ser o patrono da segunda turma de jornalistas da UFRB.
Neste ano completo 45 anos de jornalismo, contando o tempo a partir do momento em que comecei a publicar meus primeiros textos em jornais. Confesso que continuo acreditando, como quando me iniciei na mais dinâmica de todas as profissões, nos compromissos do jornalista com a verdade e de servir à sociedade com ética.
Todos sabem que ao longo desse tempo o mundo mudou. O fazer jornalismo se transformou com os avanços tecnológicos. Ser jornalista no mundo competitivo de hoje não é fácil. Mas, sabemos também que o jornalismo permanece como uma das melhores profissões do mundo, uma profissão dinâmica, uma profissão que não vai torná-los milionários, mas que pode gratificar, a cada um, pela sensação do dever cumprido.
Jornalismo é uma profissão para realizadores; para pessoas que não são acomodadas; para pessoas que não estão preocupadas apenas com o próprio ego. Aliás, todos esperam que o jornalista faça coisas úteis e que pense na coletividade, antes de pensar em si mesmo.
Reflexões para cumprir o dever profissional
A partir de hoje, como portadores de diploma de nível superior, como bacharéis em Jornalismo, não pensem que logo estarão ocupando importantes cargos na imprensa nacional. Antes, procurem, mais do que durante os quatro anos de Universidade, se aperfeiçoar no que sabem fazer. Procurem executar suas tarefas com perfeição, da melhor forma possível.
Dediquem-se com paixão às suas missões jornalísticas independente da importância ou tipo de veículo e da região onde estejam trabalhando. Saibam aproveitar as oportunidades, com profissionalismo e respeitando as questões éticas, cumprindo seus deveres antes de bradar por seus direitos. Procurem aprender com os próprios erros, pois só assim alcançarão o sucesso almejado.
Meus caros formandos, confesso a vocês, sem resquícios de romantismo ou pieguice, que se tivesse hoje que recomeçar a vida profissional, escolhendo uma profissão de nível universitário, podem ter certeza, não hesitaria, escolheria ser jornalista, apesar de tudo o que se tem feito para desvalorizar esta profissão cujo maior compromisso é com a verdade e com a sociedade.
As funções sociais básicas do jornalismo são informar, educar e fiscalizar. Para exercê-las, é necessário SER JORNALISTA com letras maiúsculas, como se fossem para compor a manchete da primeira página do jornal. Portanto, pretendo, agora, passar para vocês o que penso sobre o que é ser jornalista e espero que internalizem essas reflexões para cumprir com o dever profissional, sem temer as ameaças e sem se deixar envolver em situações espúrias.
Ser cidadão e trabalhar por um mundo melhor
Ser jornalista é não perder a capacidade de sonhar, de acreditar num mundo melhor e de ousar. É estar em constante processo de atualização e sempre atento às questões éticas.
Ser jornalista é saber ouvir e dar voz a quem não tem.
Ser jornalista é saber respeitar a opinião dos outros.
Ser jornalista é não servir de instrumento a interesses econômicos e político-partidários.
Ser jornalista é ter certeza de que as aparências enganam. É ter um compromisso com a verdade e tentar desmascarar as verdades aparentes e camufladas.
Ser jornalista é ter consciência de que o papel da imprensa é fiscalizar os poderes, público e privado, e denunciar o que tem de errado, sem omitir o que está acontecendo de bom. Ser jornalista é ter consciência de que seu papel é investigar antes, para denunciar depois.
Ser jornalista é assumir a função de testemunha da história, apresentando relatos verdadeiros. Ser jornalista é estar consciente de que não compete a ele julgar ou condenar.
Ser jornalista é não perder a fé na profissão, é sair das redações e dos gabinetes para narrar histórias da vida real independente da plataforma a ser utilizada.
Ser jornalista é deixar de praticar o jornalismo oficial e declaratório tão em moda, para se dedicar a temas de interesse dos cidadãos.
Ser jornalista é saber educar por meio da informação. É saber a diferença entre opinião e informação.
Ser jornalista é buscar a simplicidade, é ter certeza de que não é o dono da verdade, é lutar contra a arrogância que tanto tem contribuído para esvaziar a credibilidade do jornalismo.
Ser jornalista é saber que a credibilidade é fundamental para a profissão. É ter consciência de que para se construir credibilidade se leva muito tempo, mas para destruí-la, bastam apenas alguns segundos.
Ser jornalista é lutar contra todo tipo de cerceamento às liberdades fundamentais do homem, preservando o direito de acesso às informações e o direito à privacidade dos cidadãos. Ser jornalista é ser contra todo e qualquer tipo de censura.
Ser jornalista no mundo de hoje, da tecnologia digital, é saber interagir com o leitor. É saber compartilhar as informações de forma que possam ser compreendidas.
Enfim, ser jornalista, é ser cidadão, é defender a cidadania, trabalhar por um mundo melhor e procurar ser feliz.
Que sejam felizes na profissão que escolheram.
Sejam bem vindos ao mundo real!
Muito obrigado!
Observatório da Imprensa
Nenhum comentário:
Postar um comentário