8 de abril de 2012

A morte do noticiário



Qual a utilidade da foto de um morto? A pergunta soa moralista, mas antes de interpretações apressadas ressalto que é um questionamento meramente pragmático. O morto está morto, sua representação física está restrita a um corpo inerte perfeitamente possível de ser apresentado através de um relato.

Ao dizer que alguém está morto, sim a referência indireta aqui é ao Marcus Peixoto, e se confirmar o fato existe mesmo a necessidade de ver um corpo para que se acredite nisso? Na Bíblia, Cristo disse a Tomé que felizes aqueles que acreditam sem ver. O exemplo por distante não é de todo inócuo já que o público não precisa ser “premiado” com um corpo no meio de uma matéria que está relatando um acidente automobilístico.

Aos adeptos do argumento “o público quer isso” é preciso lembrar que este público não é uma entidade homogênea. Quem é o público? Aquele que quer saber rapidamente do que está acontecendo, aquele que tem desejos necrófilos (sim, uma certeza é que quem curte fotos de mortos é necrófilo), aquele que não acredita no que soube e precisa saber se aquilo é realmente verdade.

Como então pegar e juntar estes tipos, apenas alguns para ilustração porque há muitos outros, em uma entidade só que é o tal público? Além disso, como justificar que esta entidade quer mesmo ver a foto de um corpo no meio da estrada? Parece difícil responder isso sem apelar aquela provocação infantil (“se não quer ver então não acessa”) para limpar a consciência. Confesso que eu já aderi a esse convite e se sei que um veículo de comunicação faz isso simplesmente não o vejo.

“Sonhador”, podem comentar alguns. “Omisso”, dirão outros. Não ler é uma atitude, é o que digo. Na década de 90 as maiores atrocidades passavam na tv e mudanças só aconteceram quando a audiência começou a rejeitar tudo isso e abandonar estes programas. Além disso campanhas como “Quem financia a baixaria é contra a cidadania” também proporcionaram mudanças.

Não garanto que vai dar certo, mas se cada um experimentar não dar audiência para baixaria as coisas podem mudar. Até porque enquanto continuarmos reclamando e dando audiência para tudo isso um jornalismo que valorize o ser humano está mais distante.

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