19 de agosto de 2011

Mutação jornalística

Jornalismo e filosofia têm afinidades. A dialética é uma delas. Entretanto, as semelhanças vão além. O mundo está em constante mudança – eis uma das constantes filosóficas abordada por Heráclito de Éfeso: a de que “não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado (...)”. Resumidamente, a dialética e a mutação são duas das constantes que se apresentam constantemente no jornalismo e na filosofia. Poderíamos citar outras, mas vamos direto ao ponto.

Desde que o jornalismo se definiu na sociedade através de suas ideologias – ferrenhas, diga-se de passagem –, esta ciência deu início a utopias capazes de colocar em “xeque” poderes governamentais até então intocáveis. Entretanto, os anos passaram. Veio o século 21 e, com ele, a transformação indesejada pelos seguidores do jornalismo teórico – a notícia tratada de forma exclusivamente superficial e comercial.

O legado do jornalismo reacionário acabou. Acredito que a democracia brasileira acomodou uma forma pela qual os jornalistas sofreram uma transformação, passando do intelectual para o estético – o corpo bonito e o rosto atraente são mais visíveis, principalmente no jornalismo televisivo. É praticamente impossível depararmos com barbas e bigodes grisalhos e cabelos encaracolados, de aspectos desleixados, discutindo afoitamente a influência do positivismo na literatura francesa atual.

Beleza ficou mais acentuada

Não defendo uma rebelião de jornalistas. Entretanto, acho que muitos profissionais estão acomodados e o verdadeiro espírito jornalístico – o ambiente da turbulência – deu espaço a simples desfiles de modas. É mais fácil encontrar, na televisão, uma jornalista que passou por passarelas e poses sensuais do que alguém que defendeu, arduamente, na academia, um mestrado, carregando óculos de fundos de garrafa, discutindo a Teoria do Espelho, pregando conceitos jornalísticos inovadores.

Pensar em jornalismo intelectual é uma ilusão. O que vende é o comércio e jornalismo comercial supõe atração por algo que apreenda o público. Um conceito distorcido, este, já que desmerece empenhos teóricos. Já somos doutrinados por manuais de redação e, se não bastasse, a beleza também ficou mais acentuada nas telinhas...

Por Luis Fernando Manassi Mendez em 15/08/2011 e extraído do Observatório da Imprensa

Um comentário:

QUATRO CANTOS - por um jornalismo independente disse...

Oi Carlos,
Sou o próprio jornalista Luis Fernando Manassi, autor do referido artigo. Peço a ti o favor de excluir esse artigo, que foi publicado originariamente no Observatório da Imprensa.
Grato.
Luis.