14 de março de 2011

Tsunamis simultâneos, opções erradas

Por Alberto Dines em 14/3/2011
Comentário para o programa radiofônico do OI, 14/3/2011

A mídia brasileira mal conseguia cobrir um tsunami, a onda de rebeliões no mundo árabe iniciada em meados de janeiro, e agora se afoga num segundo tsunami, este verdadeiro, que se seguiu ao maior terremoto já sofrido pelo Japão e às ameaças de uma calamidade nuclear.

O pior é que tudo se juntou na véspera de um fim de semana quando os nossos principais veículos impressos e televisivos mudam drasticamente o seu ritmo e sistema de trabalho. E, como se não bastasse, esta dramática convergência noticiosa ocorre numa editoria tradicionalmente subequipada em matéria de recursos humanos e espaço, a Internacional.

Graves desdobramentos

O tirano Muamar Kadafi está esmagando os rebeldes a ferro e fogo, a Liga Árabe reunida no Cairo declara que ele perdeu a sua legitimidade e pede ao Conselho de Segurança que adote uma zona de exclusão sobre o espaço aéreo da Líbia – o que significa algum tipo de intervenção militar estrangeira.

É natural que a catástrofe japonesa absorva todas as atenções, por ter ocorrido há apenas quatro dias, pelo número de vítimas que tende a aumentar exponencialmente, pelos estragos, pela iminência de um pesadelo nuclear e pela presença no arquipélago de quase 300 mil brasileiros de origem japonesa.

O conflito líbio, porém, não pode ser secundarizado. São ainda imprevisíveis as dimensões dos seus desdobramentos no plano humanitário, político e, sobretudo, no agravamento da crise econômica mundial. Mas serão inevitáveis.

Leitores globalizados

Nosso país está geograficamente longe dos acontecimentos, mas não está imune às suas consequências. É o preço que pagamos pela nossa importância no cenário internacional e, também, por nossa dependência dele.

É incompreensível que a decisão da Liga Árabe contra Kadafi não tenha merecido grande destaque nas robustas edições dos jornalões de domingo (13/3). O jornalismo do século 21 produzido pelo mundo globalizado e para os leitores globalizados não pode ser prisioneiro das antigas e excludentes "escolhas de Sofia" e segmentado por critérios de um marketing ultrapassado.


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