Um personagem da política brasileira que já está virando uma lenda é José Sarney. Nos últimos dias deparei-me com dois registros sobre o senador maranhense pelo Amapá que são dignos de nota. O primeiro é um o filme (clique na imagem acima), que apesar dos 10 minutos vale a pena ser assistido e comparado com a realidade do Maranhão de hoje governado justamente pela filha de Sarney.
Já o outro relato é um artigo de Alberto Dines sobre a relação entre Sarney e a imprensa. Se gosta de Sarney leia-o para tentar refutar com argumentos válidos e se não gosta confirme suas expectativas ao lê-lo.
A Folha sempre tropeça em Sarney. Um dia cai
Alberto Dines
Quando colunista da Folha de S.Paulo candidata-se ou assume um cargo público com visibilidade nacional é obrigado a deixar a coluna. Já aconteceu uma dúzia de vezes com figuras expressivas da vida nacional e, mesmo que os respectivos fãs-clubes esperneiem, aumenta o respeito do leitor fiel, atento aos procedimentos deontológicos do seu jornal.
A exceção à salutar prática tem sido José Sarney. O ex-presidente da República, senador amapo-maranhense, agora presidente do Senado e, portanto, chefe do Legislativo, resiste a qualquer norma moralizadora. Está no seu DNA, é o seu encanto.
A direção da Folha parte do pressuposto que não tem contas a prestar. Teoricamente, teria apenas aos acionistas. Como se verificou nas últimas semanas, e em diversos episódios, este tipo birra (vá lá) ou prepotência não fez bem à saúde de um jornal. Os leitores perceberam os vacilos, o próprio jornal os registrou.
Quando se trata de um grande jornal - caso da Folha - o bonapartismo só o apequena. E quando este bonapartismo junta-se a ilícitos e irregularidades, o jornal torna-se cúmplice.
Caso perdido
Sarney está em todas, é um caso perdido, não consegue conviver com a retidão. Sua eleição pelo estado do Amapá foi irregular, seu império jornalístico é irregular, suas ligações com o Banco Santos eram irregulares, o indecente curral eleitoral que instalou no Maranhão é irregular e sua filha retornou ao governo do Maranhão no tapetão, tremenda irregularidade. Ela perdeu a eleição e se o ganhador foi condenado por crime eleitoral, que se faça nova eleição.
Isto foi dito de forma contundente pelo editor de "Brasil" - a editoria política da Folha - Fernando de Barros Silva, na nobilíssima página 2 de segunda-feira (20/4).
É verdade que Sarney, bom malandro, não tem usado a coluna que assina (e raramente escreve) para defender de forma ostensiva os seus interesses. Usa-a como disfarce para um pretenso bom-mocismo. Mas a sua presença no jornal coloca automaticamente sob suspeição qualquer notícia ou comentário a seu respeito. Mesmo desfavorável - e não poderia ser diferente -, o leitor sempre encontrará motivos para imaginar que o texto foi atenuado ou minimizado para atender ao amigo "da Casa".
O processo de desmoralização do Congresso materializou-se a partir de 3 de fevereiro, dia seguinte à eleição da dupla Sarney-Temer para presidir as duas Câmaras. E só tende a crescer porque desta vez, ao contrário dos escândalos anteriores, tem sido formidável a contribuição da esmagadora maioria dos 594 parlamentares.
A cada dia, um escândalo; a cada escândalo, a lembrança de que a figura central do esquema é colunista da Folha.
No dia em que Sarney for acertado pelos doidos bumerangues que zunem nos corredores brasilienses, vai sobrar para a Folha.
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